17 de abril de 2015

Algures, lá atrás,

Algures lá atrás, quando era aquela pessoa que era antes, perdi os sonhos de vista. Sonhei-os e perdi-os, sabe lá a vida porquê, com o andar dos tempos. Sempre faltou alguma coisa, entre tempo e oportunidades, até faltarem eles mesmos, cansados de serem apenas pensados.

Acho que hoje sei que os sonhos são muito do que somos.

Um sonho adiado, por não acreditarmos ser capazes, é reflexo da pessoa adiada que somos. Que sou.

Adiar ser mais saudável e mais confiante, adiar amar de forma mais completa e ser mais feliz. Adiar ser organizada e mais activa.

Não é fácil abandonarmos os caminhos que percorremos tantos anos, nem é simples deixarmos de ver o mundo pelos olhos que nos acostumámos a usar.

Mas é especial, nesta fracção de lucidez poética, acreditar que ainda há tempo para ser diferente. Para realizar todos aqueles sonhos e para voltar a estar satisfeita comigo mesma. Para sentir que se sonho, posso e mereço.

Algures lá atrás ficaram mil planos, fáceis de delinear porque a vida era jovem e nada era impossível. Não há muito que não possamos tentar, nem assim tão tanto que me seja negado alcançar.

O único bem necessário é ser capaz de agarrar esta fracção e torná-la minha por inteiro, sem mais nem quê, assim só, como era no tempo em que eu era aquela pessoa de antes.

3 de março de 2015

a contas com as contas.

Preocupada com a idealização daquilo que nem sei bem ser, acho que sou bem capaz de ter perdido grandes oportunidades de encontrar um rumo fascinante. Ou então estou encaminhada, como suposto, nesta vida de procura pelo que devo ser, pelo que devo ser de forma absolutamente excepcional.

Cresci com esse mandato em mente, de buscar sempre mais do que o suficiente, em ser mais e maior, em buscar o que vem depois do muito bom, em exigir mais de mim, em não aceitar o que ganhei hoje.

Mas a par disso talvez, talvez me esteja a armar numa onda de auto-análise, embora nem saiba bem se isso é possível, me tenha perdido na insegurança de não ter o que é preciso. De não ser o que é preciso.

Se for advogada, vou ser justa, dura e imparcial que chegue? Se for escritora, vou ser poética e fora de série? Se for jornalista, vou saber fazer as perguntas certas? Se for gestora, vou ser objectiva e ambiciosa o suficiente?

Ou nunca quis nada o suficiente para ser o que era preciso ser?

Faço demasiadas perguntas, na certeza de as ver certeiras, e não encontro nunca uma resolução que seja capaz de me avassalar o mundo redondo, de me deixar a contas com a mudança que sei ter de fazer.

Se tudo é uma possibilidade, porque não agarrar qualquer uma e decidir logo depois?
Porque é que deixei o medo de não ser excepcionalmente grandiosa, tornar-me num ponto intermédio, intermitente e assustado, sem certezas do caminho a seguir e ainda assim, sem seguir sequer?

25 de fevereiro de 2015

Assim, perdidamente.


Às voltas e às voltas, numa espiral intermitente, vista de cima, de baixo, pela gente,
Ora num poço sem fundo, ora numa magia que brilha, assim, magicamente.

19 de fevereiro de 2015

Aceitar que não se percebe.

E ainda assim, amar na mesma medida. Olhar o mundo com resignação e curiosidade, num ímpeto que se contradiz apertado no peito, de quem se desiludiu, se iludiu e se acomodou à ideia de arriscar no risco certo de nada ser garantidamente positivo.

Não se percebem as pessoas, às outras e a si mesmas, em tantas lutas sobre o que as deixa felizes e o que sabem ser correcto. Sobre o que querem e o que era suposto preferirem.

Pretensioso aquele que se olha ao espelho, achando que a vida está toda delineada, sem espaço para mudanças, com ar de sabe tudo.

Não sei se as minhas histórias de encantar favoritas se podem materializar na realidade, nem sei nada sobre amores verdadeiros ou sortes destinadas, mas neste ponto, acredito que devemos sempre acreditar num futuro com potencial para que tudo aconteça. E procurar que tudo o que queremos aconteça.

Não somos mais nem merecemos menos e nem sempre depende apenas de nós o que nos acontece. Mas ao que nos acontece, só nós podemos responder.

E ás vezes, nem sei, acredito que é preciso aceitar que há coisas que não vamos perceber. E seguir. Como se puder. Apenas como pudermos.

10 de janeiro de 2015

Especificamente.

Especificamente, pode um detalhe afectar todo o curso de uma relação?
O rótulo, ou a sua ausência, é o limitar da integridade e do respeito, ou é possível assumir que, sem amarras e conversas difíceis, as coisas podem dar certo, porque as pessoas querem apenas ir na mesma direcção?

Especificamente, quem quer arranja maneira. Quem não quer arranja desculpas, especificamente.

8 de janeiro de 2015

A insignificância dos grandes amores.

De todos os problemas que tenho, seguramente que tenho vários, um dos maiores e mais condicionantes, prende-se pelo facto de amar num sentido só.
Quando estou apaixonada vivo naquele sentido de estar realmente apaixonada, de fazer as maiores parvoíces porque estou, como se constata,apaixonada, de imaginar o mundo apenas no intuito de incluir o par, de olhar o amanhã com e em função daquela parte que complementa.
Que complementa e me abafa por completo.

Não obstante destas minhas peculiaridades, interrogo-me sobre os fundamentos de uma relação. Sobre o que é aceitável ou correcto, sobre o que nos deve mover. Sobre o que esperar.

Tenho um leque considerável de episódios próprios e de terceiros sobre pontarias completamente desastrosas. Amores que se revelam nas maiores mentiras e nos piores desgostos. Que transformam as pessoas em más versões de si mesmas.

Ainda há pessoas capazes de respeitar a integridade das outras quando estão numa relação? Ou passou a ser tão difícil encontrar alguém que contrarie a tendência do fim da monogamia que o resultado é habituarmo-nos à ideia de que, por muito que se escolha, já se sabe que ao fim de uns meses eles arranjam mais um caso ou dois, nós fingimos que não sabemos e eles fingem que acreditam que nos enganam bem, e a coisa segue, mais algum tempo, mais algum tempo, mais algum tempo?

O amor é um conto de fadas que os tempos vieram desmistificar ou a verdade é que é possível encontrar um amor, no sentido poético e exclusivo da palavra, só temos de ser pacientes o suficiente para o encontrar?

Daqui de onde me sento, em modo automático para não pensar em como o amor é parvo e as pessoas não valem a pena, acho que sei menos do que ontem e o que sei a mais, às vezes mais valia nem saber.

Mas temos de renunciar à consciência das coisas para sermos felizes?

Ou vamos acabar à procura eterna de um amor impossível de encontrar porque, incrivelmente, nos esbarrámos sempre em mentes complicadas que tentámos compreender anos a fio, que na verdade eram pouco mais além de vulgares e a única complicação que tinham era a organização das agendas para conciliar os casos diversos?